sábado, 7 de janeiro de 2012

Quando chove
Eu só quero abrir janelas
Deixar a casa alagar

Descalço,
Pelado,
Acabado contra o marmóre frio;

O passado se espatifa em mil goticulas contra a parede.
Exagero em cada lembrança;
Sofrimento,
Desespero. Será que já foi bom?

Quando chove
Eu só quero aprender a dançar
Eu ligo a bossa favorita lá longe e então

Ecoa,
Reverbera,
Vai e volta, me arrepia
Eu sonho com o palco, com uma breve companhia,

Minha,
Sozinha. . .

Melhor sem companhia.

Devaneio louco de sempre, nostálgica solidãoindecisãofuturo.

medomedomedomedomedomedo

Sono,
Durmo.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Li, não me lembro onde, que uma biografia, por mais completa que pretenda ser, jamais consegue transmitir o que foi realmente a vida ali descrita. É o mal das palavras, e também o mal desses estados de alma, indizíveis. Onde encaixar a alegria simples de ter aulas com alguém e sair delas emocionada, eufórica? E a felicidade plena de poder tocar em duo com uma das pessoas únicas com quem a gente se completa musicalmente? E o vazio de tudo se acabar? Entretanto, nada se acaba. Restam lembranças, dúvidas e a esperança de um dia tudo voltar. Depois disso tudo, é tocar com os outros pela amizade, mesmo sem a identificação musical. A felicidade já passou, não volta mais?
Existe a emoção de tocar. É se realizar, tocando para alguém que nos ouve, que presencia você finalmente se assumindo. É um elo que se cria tendo em troca a expectativa, o silêncio atento e o aplauso do público. Há também as crises, desilusões, angústia de existir. Houve a faculdade, que me fez perder a vontade até de tocar. Há os concursos, esse mal necessário. Tem os amigos, tem a solidão. As leituras, os pensamentos, os limites, as possibilidades - até onde tudo isso vai?
Este disco é um marco na minha vida, e possivelmente em outras vidas, paralelas à minha. É o resultado de um relacionamento intenso e profundo com a música e com tudo de indizível que ela representa. Só não saiu melhor pela minha própria inexperiência.
E há o violão, instrumento com o qual me identifico tanto. Tento, eu mais ele, ser uma individualidade, alguém que acrescenta algo de novo ao já existente. É difícil; às vezes, pra que estudar? São as horas que vão passando, e a meta se confundindo com a nossa própria vida, com a nossa vontade de ser feliz.
E o coração bate por trás do violão. É o meu; é o dos compositores. É a música que chega até você e pode fazer você se lembrar do próprio coração.

-Cristina Azuma

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Da janela se ouve o chacoalhar das arvores, os galhos balançam e a folhas mexem como dançarinos, o sapatear suave ecoa pela cidade. Leves brisas encharcadas de um sentimento tépido sopram as cortinas.
Olhando pela janela, as ruas estão vazias e só perdura a iluminação dos postes da prefeitura, todo o resto se encontra no breu, me iludo então que toda a cidade está a dormir, de repente tenho paz.
O silêncio humano que apazigua, ajuda a enaltecer a solidão carregada por todos nós. Sentimento mais verdadeiro, fusão de todos os outros, assim acredito. Aqui não existe pressão, nem compromissos a cumprir ou pessoas a ver. Não se precisa agradar ninguém, vive-se na loucura do ser e não da sociedade. Pode-se parecer e soar de todo agradável, mas não é.
Desesperado, calço o meu par de sapatos de Hermes e disparo pela janela em direção a uma escuridão muito maior. Eu não consigo voar, morro de terno e gravata, meu corpo foi encontrado descalço. Eu ainda estou ali, etéreo e flutuando, fez-se o meu desejo.
A alma então vagueia pelas ruas mal alumiadas, nelas descansam corpos abatidos e moribundos, sobre camas de papelão e sob cobertores de trapos. A alma se sente culpada. Reconhece então a rua, enquanto corpo passava por ela todos os dias, mas nunca havia notado tal cena. Surpreende-se então. Vagueia mais um pouco e é só isso que encontra, tem certeza de que por agora se ainda fosse um corpo estaria nauseada. Os corpos fedem a miséria e fome, são não mais que bichos. A alma acredita. Mas e o sentimento de culpa? Foi posto de lado brevemente pelo de surpresa.
Enquanto tudo se fazia real e por toda a parte, não era mais digna de se sentir surpresa, voltou então a culpa.
Atentou-se aos detalhes, queria mais clareza, foi então que pôde perceber que os agora trapos que esses pedaços de carne vestiam eram antes ternos. A alma estava confusa, deveras.
Na face de cada ser a feição antes imposta. A alma podia discernir-lo e então apontava e gritava extasiada “Este é um empresário, aquele um corretor, ah! E aquele ali, aquele ali um advogado!”. Isso só aumentou sua confusão, pois começou a indagar; se são realmente advogados, empresários e corretores, o que estão a fazer na rua? Tão moribundos e acabados?
O dia amanhecia, e por entre os moribundos começaram a caminhar seres pelados, que ela reconheceu como pessoas. Achou tudo muito esquisito, onde estavam as regras e os bons costumes? O sol iluminou a cidade e pôde perceber que dela só se faziam ruínas. Não buscava mais respostas, pois só se fazia mais confusa. Decidiu deixar-se levar. A alma foi arrastada.
O mar de pelados a carregou além das ruínas da antes cidade para uma terra avermelhada, batida e rachada, os moribundos continuavam imóveis como cadáveres. No fim de toda aquela terra vermelha havia um penhasco profundo, talvez sem fim, tomado de escuridão, e lá cada pelado mergulhava, só para depois surgir com pequenas asinhas nos calcanhares, voavam em direção ao horizonte para onde não se avistava nada mais que luz. A alma assistiu. Um após o outro voava em direção a luz, até que restou somente ela. Dentro de si sabia que asinhas não surgiriam milagrosamente nos seus calcanhares, e que se mergulhasse no penhasco não surgiria em direção da luz, mas se afogaria na escuridão.
Olhou para trás, fez menção de voltar à cidade e aos corpos fétidos e acabados, poderia aprender a gostar da companhia. Mas antes que desse um passo sequer foi novamente surpreendida, os moribundos a cercavam com olhos famintos e face assustadora.
A alma era culpada; não podia mais voar e não podia mais entender. O que para ela era precioso, agora não passava de lixo. Fez-se súdita do seu antigo reinado. Fez-se acabada em sofrimento. Desejou o fundo do penhasco, mas sabia que não podia e nem deveria escapar. A alma então sofre para que possa renascer. Renascer em algo oposto. Enquanto isso nós esperamos.

terça-feira, 27 de abril de 2010

A janela do quarto está completamente aberta, de fora não vem luz suficiente e a artificial... a artificial nunca satisfaz.
-Me sinto sufocado;
Lá fora é noite, mas não importa, o dia é cópia. Nem a lua e nem o sol parecem ter algum brilho, eu perdi o próprio e pelo jeito não se pega emprestado. Absoluto estou que o problema está aqui, que sou eu, pois não sumiste só dos astros, mas também do que mais prezo, da música. Eu olho para o meu rádio como se ele estivesse quebrado, mas quebrado estou eu e por isso cá estou, pois quando falho com as notas só me restam as palavras, e por favor, e eu imploro, não me deixem falhar também.
É de minha vontade falar sobre, mas não sou hábil, por isso escrevo; mesmo que não seja hábil na escrita também, me dá alguma coragem, sinto-me “especial”.
Falarei do que me incomoda, mas não só do que incomoda, mas o que lentamente destrói e corrói, o que eu tomo toda liberdade em minha descrença religiosa de chamar, o meu espírito.
E para efeito de elucidação, chamo de espírito a englobação de vários importantes “estados”, dos quais destaco o brilho, a saúde, a criatividade, a vontade, a felicidade. Que lentamente abandonam minha pessoa ao decorrer deste ano.
Todas as pistas indicam um lugar comum. E eu não sei por onde começar, e penso, talvez eu esteja apenas me acovardando.
-Logo agora?
Minhas mãos tremem e escorregam pelas teclas.
Ano passado não foi assim, então por quê? É a pergunta que ecoa em minha cabeça.
-As pessoas eram diferentes;
Eu estava cercado de pequenos excêntricos, o melhor, eles nem sabiam e com certeza, ainda não se dão conta. Aproximadamente 40 e tantos pequenos excêntricos a minha volta, cada qual em um grupo, cada qual com sua excentricidade e mais importante ainda, sua simplicidade e honestidade.
Se ano passado eu estava com os oprimidos, este ano eu sinto como se estivesse com os opressores, e por todo cosmo, como isso me entristece.
E você agora pode começar a achar que alguma coisa no pequeno percurso da minha vida e educação tenha ido muito errado, mas eu prefiro o lado deles, dos oprimidos.
Aqui nos opressores falta muito do que me importa, falta dignidade, falta moral e mais importante, falta respeito.
-E em quase dito popular, vou deixar a peteca cair.
Os fins de semana até me revigoram, me dão alguma esperança, moldam alguma sanidade em mim. Mas somos moldura da sociedade em que vivemos, digo ainda mais, da MICRO sociedade. Um aluno é reflexo da sua sala, isso é se nela ele passar a maior parte do tempo de sua semana. Não quero me aprofundar no conceito e peço encarecidamente que você leitor entenda meu ponto apenas com esse pouco.
Ainda resta a resistência, e ao resistir a essa moldura só me resta a solidão, qual me destrói tão forte e intensamente como nenhum outro sentimento consegue. Não, antes a destruição do meu ser do que a destruição de minhas morais, quais destruiriam também o meu ser, mas dariam vida a outro, outro qual não gosto nem de pensar. Não sucumbirei à vontade e sofrerei mesmo que calado se preciso.
Assim, junto também da minha falta de resolução, da minha perspectiva ainda escassa de futuro, meu espírito escorre pelos poros e me abandona.
Não tenho conforto, não sinto esperança, e hoje é só terça-feira... dói imaginar na quarta e ainda mais quando realizo o quão longe o sábado está. Sabendo o quão dramático irei soar (e já soei), mas não sei quanto tempo até a peteca cair de vez.

domingo, 20 de setembro de 2009

Vago incansavelmente pelos cômodos da casa. Estou à procura de algo que não existe, não aqui dentro pelo menos. Meus passos desconsertados revelam facilmente ao observador mais atento a solidão e angustia. Vou andando, a cabeça voando, o tempo correndo; afogo-me mais um pouco no perfeccionismo. Gritos agonizantes chicoteiam por todas as paredes. A noite vai escorrendo e logo será manhã, logo mais sofrimento acompanhado de muito, mas muito cansaço da noite não dormida. Meu dia se resumirá na esperança de que tudo acabe logo. Eu quero dormir, quando acontece são as melhores oito horas do dia. Mesmo uma noite de pesadelos assombrosos tem sido melhor que um dia de realidade pacata e indesejada. Mas acho difícil cair no sono, ainda prefiro procura por você; em baixo do tapete, dentro da geladeira, em lugares que sei que nunca vou encontrar, pois sou covarde de mais para te procurar de verdade, e covarde de mais para te dizer que preciso de você aqui.
 
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